Unidade fornece alimento para a própria maternidade e para as UTIs neonatal e pediátrica
Para dar suporte aos quase 3,5 mil partos realizados anualmente pela Santa Casa de Anápolis é necessário um bom estoque de leite materno. É que, por assistir a vários nascimentos, é natural que haja complicações numa porcentagem deles. Bebês prematuros, deficientes, com deformidades, doentes ou com baixo peso, com mães não produzem o leite, que têm dificuldade em amamentar, ou ainda que perdem a vida durante o parto são casos comuns na maternidade da instituição.
A Santa Casa de Anápolis conta com UTIs neonatal e pediátrica para salvar essas pequenas vidas que precisam não só de cuidados médicos, mas também de amor. “É por isso que dizemos que doar leite é um gesto de amor”, explica Bárbara Laet Botosso Bispo, nutricionista responsável pelo trabalho por lá. Segundo ela, a doação envolve a disposição da mãe, que acaba de ter o filho e ainda está fragilizada. É preciso tempo, paciência e dedicação. Para auxiliar, o banco de leite dispõe de uma equipe para orientá-las desde o pre-parto. Quando estão em casa, o Hospital manda buscar o leite coletado. Tudo para não deixar faltar esse líquido tão precioso.
É que ele é insubstituível para qualquer recém-nascido. Especialmente aqueles que nasceram sob circunstâncias adversas. Para se ter noção, a nutricionista conta que já houve casos de bebês que nasceram pesando pouco mais de 500g. Para eles, apenas 1ml por refeição já é o suficiente para obterem significativa melhora. “O leite materno tem o mais alto valor biológico que existe para os humanos e ainda vem com anticorpos que funcionam como uma vacina para os bebês”, explica ela. “É a razão pela qual nos preocupamos quando os estoques vão baixando”, completa.
O banco de leite da Santa Casa de Anápolis teve uma coleta de 99 litros em janeiro e 88 em fevereiro. Mas, por falta de doadores, pode chegar com dificuldade aos 60 litros esse mês. Só o hospital consome cerca de 70 litros mensais em suas UTIs. “Sabemos que não é uma tarefa fácil para as mães, mas lembramos que tratam-se de crianças como as delas, que também precisam viver e dependem do leite materno para isso. Não importa a quantidade de equipamentos modernos, profissionais especializados e medicamentos. Se não há o leite materno, a taxa de mortalidade sobe muito e não há nada que possamos fazer à não ser essa conscientização”, declara Bárbara.
Além da falta, existe ainda o tempo de processamento, que pode levar até três dias. Antes de estar pronto para o consumo, esse leite é testado e colocado durante 30 minutos sob uma temperatura de 62,5°C, o que neutraliza eventuais contaminações sem que o valor nutricional seja perdido. “É um trabalho árduo e demorado, mas que nossa equipe está disposta a realizar porque sabe da importância disso”, completa a nutricionista. Rute Maria teve um parto prematuro. Ela foi paciente da Santa Casa. Seu bebê ficou dois meses na UTI neonatal antes de poder ficar nos braços dela e, se não fosse o leite doado, a história seria outra. “Sem ele pra mamar e com o stress, eu não consegui produzir leite pra ele e dependi totalmente do banco de leite. Vi como é importante e o sofrimento a mais que sentimos por saber que esse leite poderia acabar por falta de doadores”, conta ela.
Já Juliana Moraes, que também foi paciente do hospital, lembra que produziu mais leite do que precisava. Chegou a ser abordada pela equipe do banco de leite mas, a princípio, se recusou a doar. “Quando damos a luz não estamos com nosso psicólogo normal. Senti medo. Pensei que talvez poderia faltar pro meu filho. E não senti segurança em fazer os procedimentos para retirar o leite. Acabei indo pra casa sem doar”, relata. Mas, dias depois, liguei para a Santa Casa e uma equipe veio para me orientar e passou a recolher o leite diariamente. Aí me senti extremamente bem em poder contribuir. Penso que as mães que puderem devem fazer o mesmo. Concordo que não é fácil, mas é um gesto de amor… e amor, qualquer mãe tem de sobra”, conclui.